domingo, 29 de janeiro de 2012

Bohr, a Física Quântica e a Segunda Guerra Mundial.

A história da vida de Niels Henrick David Bohr é instigante, e não apenas por que ele ajudou a criar o Admirável Mundo Novo em que já vivemos ao desvendar os mistérios da estrutura atômica e alicerçar a física quântica, mas por causa de suas aventuras pela sobrevivência em plena segunda guerra mundial.

O romance de Niels Bohr com a teoria quântica de Max Planck se iniciou em sua tese de doutoramento, com a teoria dos elétrons dos metais. Ele argumentou que o magnetismo revelava inadequações à teoria dos elétrons dos metais, que apesar de dar conta da parte qualitativa não dava conta da parte quantitativa. A física clássica não funcionava no nível subatômico. Uma nova física precisava surgir.

Na Primavera de 1912, Niels Bohr passou a trabalhar no laboratório do professor Rutherford, em Manchester. Neste laboratório, Bohr realizou um trabalho sobre a absorção de raios alfa, que foi publicado na “Philosophical Magazine”, em 1913. E começou a se dedicar ao estudo da estrutura atômica após a descoberta do núcleo atômico pelo professor Ernest Rutherford.

Ao aplicar a teoria quântica de Planck ao modelo do ‘sistema solar’ do átomo, Bohr dava o primeiro passo à nossa Era Moderna. E se tornava, ao lado de Einstein, um dos gigantes da física do século XX.

As discussões entre os dois gênios estão entre os grandes épicos da história da ciência. E, quando Einstein ousou dizer: “Deus não joga dados com o Universo”, Bohr rebateu: “Pare de dizer a Deus o que Ele deve fazer”.

No final da década de 1930, concebeu um modelo que descrevia a composição do núcleo atômico e seu funcionamento. Nesse ponto, uma vez mais, ele considerou o comportamento nuclear em termos da mecânica quântica. Foi o primeiro a descrever o que efetivamente acontecia durante uma fissão nuclear. E o fez em 1939, imediatamente após ela ter sido descoberta, como resultado dos experimentos do alemão Otto Hahn e sua colega judia alemã Lise Meitner – obrigada a fugir da Alemanha nazista em meio ao trabalho que desenvolviam.

Outros cérebros científicos que fugiram da Alemanha sob o nazismo foram: Erwin Schrödinger (que desenvolveu a versão ondulatória da mecânica quântica) e Max Born (que formulou a interpretação da densidade de probabilidade dessa ciência), além de Hans Krebs (descobridor do ciclo do ácido cítrico no interior das células – o ciclo de Krebs). Porém, o mais célebre foi Albert Einstein, que em visita aos Estados Unidos resolveu não mais voltar.
Heisenberg e Bohr
Ao tomar conhecimento dos avanços das pesquisas relativas a fissão nuclear, Bohr, em visita aos Estados Unidos, advertiu Einstein de que a Alemanha nazista tinha conhecimento teórico suficiente para iniciar pesquisas visando a fabricação de uma bomba atômica. Em conseqüência, Einstein escreveu ao presidente Roosevelt, que rapidamente criou o Projeto Manhattan, com o objetivo de criar uma bomba atômica americana antes da alemã.

Em 1940, a Dinamarca foi invadida pela Alemanha nazista, e Bohr fez o possível para manter a integridade de seu Instituto. E, em 1941, foi visitado pelo físico alemão Werner Heisenberg, autor do Princípio da Incerteza. A relação entre os dois esfriara devido aos fatos históricos. Heisenberg foi o primeiro cientista importante a permanecer na Alemanha nazista. Em seu encontro com Bohr na Dinamarca ocupada pelos nazistas, Heisenberg entregou-lhe um diagrama criptografado mostrando os avanços do programa atômico nazista – na verdade, de um protótipo de reator que não funcionou muito bem.

Em setembro de 1943, Bohr ficou sabendo que iriam prendê-lo devido ao seu manifesto desprezo pelos nazistas. Um plano de fuga foi logo elaborado. Bohr e a família foram deslocados para uma casa no subúrbio de Copenhague. Ao anoitecer, rastejaram pela campina até uma praia deserta, e lá embarcaram num barco pesqueiro, navegando 24 quilômetros até a neutra Suécia, deixando para trás as patrulhas marítimas alemãs.

Ao chegar, Bohr foi enviado às pressas para Estocolmo. Assim que sua fuga foi descoberta, o serviço secreto alemão recebeu ordens de matá-lo tão logo fosse avistado. Embora Estocolmo estivesse fervilhando de agentes alemães, e houvesse vários simpatizantes alemães em cargos oficiais, Bohr conseguiu uma audiência com o rei. Este ameaçou pôr em risco a neutralidade sueca e manifestou repúdio à violação de direitos humanos ocorrendo em território dinamarquês – Bohr o noticiou do plano nazista de enviar cerca de 8.000 judeus dinamarqueses para os campos.

Alguns dias mais tarde, o governo inglês enviou um bombardeiro mosquito, sem identificação, até a Suécia para resgatar Bohr. Os agentes nazistas sabiam então tanto sobre o bombardeiro quanto sobre Bohr (que na ocasião se encontrava em outro lugar). Estavam dispostos a tudo para evitar a saída do físico dinamarquês. Após uma série de aventuras e infortúnios dignos de qualquer romance de espionagem, Bohr finalmente embarcou secretamente no compartimento vazio de bombas do mosquito, que decolou protegido pela escuridão. Despistou a Luftwaffe (aviação alemã) em seu vôo sobre a Noruega ocupada e cruzou o Mar do Norte rumo à Inglaterra. Bohr, então com 57 anos, corria o risco de morrer congelado. Quando o mosquito finalmente pousou com segurança, Bohr estava quase inconsciente em conseqüência de hipotermia e falta de oxigênio.

Bohr mal teve tempo de se aquecer na Inglaterra (um processo um tanto longo devido à falta de combustível decorrente da guerra) e foi levado para os Estados Unidos. Associou-se imediatamente ao Projeto Manhattan, viajando para o laboratório secreto de Los Alamos, onde a bomba estava sendo montada.

Após desempenhar um papel na criação da primeira bomba, ficou naturalmente horrorizado ao ver seu efeito. Logo começou a usar seu prestígio para tentar convencer os altos escalões a interromper qualquer pesquisa vinculada à bomba nuclear – em vão.

Um dos fundadores do Conselho Europeu para a Pesquisa Nuclear (CERN), Bohr morreu a 18 de Novembro de 1962, vítima de uma trombose, aos 77 anos de idade.

E a aventura continua através da ciência rumo ao desconhecido. Pois não é a dificuldade um obstáculo, mas um estímulo.


Referência: Bohr e a Teoria Quântica. Col. Cientistas em 90 minutos. STRATHERN, Paul. Ed. Jorge Zahar.

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